terça-feira, 19 de junho de 2012

Abraça-me

Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.
Uma vez que nem sei se tu existes.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Falling from darkness

"Falling from darkness
To a place I don't know
Everything's moving with no place to go
I feel so alone and scared
As I fall, I wonder, "Is anyone there?"

As the days and nights pass right by
I count the nights I just lay and cry
Falling from faith, falling from love
Please, is there anyone up above?

Never did I want to feel like this,
When the answer lies with the slit of the wrist
My mind is racing to find another solution
Before it's too late and I'm just an illusion.

No one knows how I really feel
I just want him to hold me and help me heal
As I fall, I feel the rain"

Anne Powers

domingo, 3 de junho de 2012

Este silêncio, não por falta de barulho, de sons, de vozes.. Este silêncio nas palavras. Este silêncio nas imagens, que se repetem nas lembranças, as fotografias e os momentos parados no dia em que foram fotografias e momentos. Parados no silêncio. Fecho os olhos, e até abertos, e vejo só aqueles dias, aqueles sítios, e os cheiros. Dói que tardem em voltar, dói sentir o tanto que sinto. Este silêncio nas palavras, qual viagem solitária, mesmo não estando sozinha. Quanta sede e fome, e frio. E hoje é um dia quente de verão, e não falta comida na mesa, e água fresca e pessoas à volta a rir. Mas estou presa a esta coisa a que julgo que chamam saudade!

"A saudade não está na distância das coisas, mas numa súbita fractura de nós, num quebrar de alma em que todas as coisas se afundam." Vergílio Ferreira