segunda-feira, 30 de abril de 2012

Estou cansada
Eternamente cansada
Cansam-me as manhãs
e as noites, cansam-me até
os fins de tarde.
Estou cansada
Cansam-me as músicas e a chuva
e mesmo as crianças me cansam.
Mas cansa-me
cansa-me ainda mais
ainda muito mais
a saudade!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Chega... Chega devagar
Traz o o infinito dentro do tempo
Pára no presente,
no que estás comigo
Chega... Quero a tua voz
E o teu jeito de abraçar
E o teu jeito de fazer do tempo
tão pouco tempo
Chega... Estou à espera
E dói o peito de saudades
Do tempo pouco
Em que chegas... Em que estás aqui.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Viver

Mas era apenas isso,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?

E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?

Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projecto de abri-la
sem haver outro lado?

O projecto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?

Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?


Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco'

sábado, 14 de abril de 2012

Chuva



Trazes em ti a lembrança e a saudade, o abrigo e o alento no desconforto do descoberto. A beleza da liberdade de lavares os seres e as dores. De caíres sem caminhos, sem traçados, sem escolhas. A crueza de seres uma em infinidades... Chuva. Trazes em ti o descanso no ruído, trazes em ti o frio que aquece, que abraça. Trazes em ti bocados de céu e de terra. O mundo desce nos teus pedaços e envolve. As coisas, e as pessoas. E adormece. As coisas e as pessoas. E acorda, as coisas e as pessoas. Trazes o sal e o cheiro, e os cheiros e o pó e a terra. E as lágrimas... Carregas pesos e vidas no teu jeito leve de tocar. Trazes música e silêncios. Risos e vozes. E solidão.
Lava-me. Leva-me. Ou traz-me de volta.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

"A minha idade irá parar no momento em que partires. Será uma espécie de morte cinzenta. Serás tu que partes mas serei eu que desapareço."
"Juntos, albergávamos uma dor sem nome. E desejámos que chovesse sobre os nossos corpos. Desejámos que os nossos corpos fossem a terra a receber a chuva. Aquilo que podíamos fazer era apenas desejar. Desejámos a chuva. As nossas mãos eram inúteis."
"Deixaste-me eterna de noite
agonizando pelas estrelas
serena e mansa
como um cisne
quando morre a tarde."

Breve

Breve, tão breve...
Tão breve és no meu tempo
Adormeces-me de dor no instante em que me foges
Quando olho, já és só o lugar onde te via
Breve, me deixas
Aqui, breve já foste, quando ainda sinto o cheiro
Quando ainda ouço a voz na distância...
Breve. Oh! Tão breve me és
Tão breve não me és.
Saudade.

domingo, 8 de abril de 2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

De ti

Saudade
De encostar no teu peito
Respirar fundo e pensar:
'Guarda-me no bolso, leva-me para sempre...'

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Menino

O menino brincava na areia
Tranquilo, sereno, trauteando canções de criança
E eu olhava o menino
E sentia falta de ver com olhos de menino
e escutar na minha voz que era de menino
os meus pensamentos crus de menino.
Olhos esses, agora cansados,
Voz essa que, rouca, fala magoada.
Já não sei brincar, ver ou escutar.
E penso angustiada na saudade de pensar nada.
E o menino brincava na areia.
E tudo que eu queria ser estava ali,
nos olhos sinceros de menino
que trauteava canções de criança
tranquilo e sereno.

domingo, 1 de abril de 2012

O tamanho que és em mim

Não tenho tamanho nas palavras
pouco são quando te digo vida
e te digo tudo
e te digo sempre
Vida e tudo e sempre
e ainda vida e tudo e sempre.
Levaria a vida e o sempre
para ter o tamanho nas palavras
do mesmo tamanho que és em mim.