Foi para ti que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida Mia Couto
sábado, 30 de julho de 2011
Horário do Fim
morre-se nada quando chega a vez
é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos
morre-se tudo
quando não é o justo momento
e não é nunca
esse momentoMia Couto
é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos
morre-se tudo
quando não é o justo momento
e não é nunca
esse momentoMia Couto
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Doce Solidão Parte II
A minha inspiração desinspira-me. É dolorosa, impiedosa. Triste, agonizante. Não há abstracção, nem escape. A tentar fugir do vazio, fui direita a ele. E agora dói. Tenho sede. Tremo. Sou cheia de nada e não sei ser oca. Frio na barriga, nó. Só.
Quero sal e vento na cara. Manhãs frias, cheias de escritos e pensamentos. Tardes longas de sol a fechar-me os olhos, de fugidas para nenhures e cigarros na noite a cair.
Fico me pelas palavras carregadas que ajudam no levar do fardo...
terça-feira, 26 de julho de 2011
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Não, não é cansaço...
Não, não é cansaço... É uma quantidade de desilusão Que se me entranha na espécie de pensar. É um domingo às avessas Do sentimento, Um feriado passado no abismo... Não, cansaço não é... É eu estar existindo E também o mundo, Com tudo aquilo que contém, Como tudo aquilo que nele se desdobra E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Fernando Pessoa
Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela
Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
I'm sure i used to be free
wash me away
clean your body of me
erase all the memories
they will only bring us pain
and i've seen, all i'll ever need
terça-feira, 19 de julho de 2011
And it rips through the silence, all that is left is all that I hide
"If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we drink to die, we drink tonight
Far from home, elephant gun
Let's take them down one by one
We'll lay it down, it's not been found, it's not around"
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Só útil se fútil
Noite. Frio. Um vazio avassalador. É assim que me sinto. Horas e horas de tortura, o mundo a pesar. Mais que ao mundo, ao resto dele. Passagem sem significado. A minha. Nada vejo mais que inutilidade. A minha. Sou. E mais? És, são. E mais? Isto só não me contenta, não alivia a dor. Preciso de ser, que sejas, que sejam. Mais. Sofro, peno, morro. E ninguém dá conta. Porque os sorrisos e os tudo bem prevalecem. Aos olhos tristes. Aos braços que pedem. Suplicam. Eu suplico. Digam eu sei. Digam eu também. A vossa felicidade garantida destrói-me. Só existe se fútil? Erro meu, certamente. As dores do não dormir são próprias dos infelizes, e eu sou. E não durmo. E penso. Porque penso não durmo. Porque penso sou infeliz. Porque dói. Por não chegar o passar das horas, por não bastar o dia a seguir à noite. Porque tem de fazer sentido, e tenho de sentir. Que o passar das horas não chega, e não basta o dia a seguir à noite. Ou então sou louca. Talvez.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Take us away from here
They'll keep us apart and they won't stop breaking us down.
Hold me,
Our lips must always be sealed.
The night has reached its end,
We can't pretend,
We must run,
We must run,
It's time to run
Take us away from here...
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