Todas as noites esperava. Horas infinitas demasiado pesadas. Gélida escuridão selada pelo silênco implacável. Silêncio que na sua cabeça soava a milhares de tambores. Doía. Doía impediedosamente . Nada acalmava o desespero inquietante da procura de respostas sem resultados. Só queria a facilidade de uma vida vazia, apesar de o abominar. O fácil, o suportável. Uma vida morta. Uma mente sem lembranças. Pensar dói, corrói. O anseio de uma miserável trégua ainda lhe doía mais, ainda corroía mais, 'Como posso desjar tal absurdo?'. Mas a verdade é que se cansara de tentar fugir ao inevitável, às repetições, à ausência de genuinidade. Era uma luta perdida há muito. E sabia o que lhe esperava. Já ninguém era capaz de suportar a sua dor, dor essa que deixara de ser dela quando julgaram que havia perdido a razão. A mudança de parágrafo aproximava-se. Havia perdido o controlo da sua vida não morta e tudo se resumia agora ao nada de todos os ordinários. Chamaram-na louca porque ousou questionar. E como o fez incessantemente acharam ser um problema sério, como dizem eles. Fugir nem valia a pena, conformação era a única resposta possível, não que fosse suportável. Longe de o ser. Pelo menos estaria sozinha, com a companhia de sempre: a noite.
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